PF X Plataforma X: A Batalha do Bloqueio que Não Bloqueia

Se a internet fosse um grande palco, o X (antigo Twitter) seria aquele apresentador que diz que o show acabou, mas as cortinas seguem abertas, os microfones continuam ligados e o público ainda aplaude. Pelo menos é essa a acusação da Polícia Federal (PF), que informou ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que a plataforma não está cumprindo as ordens de bloqueio de perfis como deveria.

O relatório enviado à Justiça no dia 11 de março detalha o que a PF chama de um verdadeiro “jogo de cena” da rede social. O X teria permitido que contas bloqueadas continuassem transmitindo ao vivo e até arrecadando dinheiro, como se o bloqueio fosse apenas uma ilusão.


Lives no escuro? Nem tanto...

Um dos casos citados no documento envolve Allan dos Santos, dono do perfil Terça Livre. No dia 8 de abril de 2024, enquanto seu perfil deveria estar invisível para o mundo, lá estava ele, ao vivo. A PF não precisou de um grande esforço investigativo para notar o detalhe que entregava tudo: a foto do perfil estampava a frase “AO VIVO”.

Outro caso parecido ocorreu com Rodrigo Constantino, bloqueado por decisão de Moraes no dia 12 de abril de 2024. Segundo a PF, qualquer um podia acessar sua transmissão diretamente pelo X, sem precisar de um VPN ou artifícios técnicos. O perfil ainda exibia um link para o YouTube, permitindo que o jornalista continuasse se comunicando com seu público sem maiores dificuldades.


Bloqueados, mas não silenciados

Se as transmissões já soavam como um furo na estratégia de bloqueio, a história fica ainda mais intrigante quando se descobre que até pedidos de doação continuaram ativos. O relatório da PF revela que perfis bloqueados exibiam links para contribuições financeiras, e até um botão de “Enviar Bonificação” estava disponível para quem quisesse apoiar os comunicadores.

Parece contraditório, certo? Perfis que supostamente deveriam estar fora do ar, mas que continuam recebendo apoio como se nada tivesse acontecido.


E agora?

Diante dessas descobertas, Moraes determinou que o X e a Meta (dona do Facebook e Instagram) forneçam informações sobre as contas de Allan dos Santos à PF. A plataforma tem 10 dias para responder, sob o risco de uma multa salgada: R$ 100 mil por dia de descumprimento.

O pedido de informações faz parte da investigação sobre fake news e milícias digitais, temas que há tempos circulam pelo STF. Allan dos Santos, aliás, já tem uma longa ficha por aqui. Foragido da Justiça brasileira desde 2021, ele foi condenado a 1 ano e 7 meses de prisão por calúnia e segue vivendo nos Estados Unidos.


O bloqueio que não bloqueia

O relatório da PF levanta um questionamento inevitável: afinal, um bloqueio que ainda permite transmissões, arrecadação de dinheiro e links externos é um bloqueio de verdade?

Se o objetivo era impedir a comunicação desses perfis com o público, parece que a medida encontrou uma barreira. A tecnologia, com suas infinitas brechas, segue mostrando que silenciar alguém na internet pode ser bem mais complicado do que apertar um simples botão de “desativar conta”.

Enquanto isso, a PF e o STF tentam fechar todas as portas e janelas. Mas, como sabemos, na internet, sempre há um novo atalho para quem não quer sair de cena.


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