Num mercado onde cada centavo importa, o FII RECT11 acaba de dar um passo inesperado — e bem simbólico. Depois de semanas sob fogo cruzado dos seus próprios cotistas, o fundo de lajes corporativas anunciou a suspensão total da taxa de consultoria de investimentos. Sim, total. Nada de metade, nada de "vamos ver no futuro". Zé-finito.
Quando o barulho dos cotistas ecoa na torre de vidro
O barulho começou pequeno, como um grito abafado em um grupo de WhatsApp. Mas cresceu. E virou movimento. Chamado de “Queremos mudanças no RECT11”, o grupo de investidores decidiu que não ia mais aceitar pagar taxas com base em um valor que não refletia a realidade do mercado. Afinal, por que calcular a taxa pelo valor patrimonial se as cotas estão sangrando no pregão?
Com a pulga atrás da orelha e a pressão nas alturas, a gestão cedeu. Primeiro, anunciou que reteria 50% da taxa de consultoria por um ano. Mas isso não bastou. A galera queria mais. E conseguiu. Agora, os 100% da taxa estão suspensos e, pasme, redirecionados para abater dívidas do fundo.
Sim, o fundo decidiu pagar dívida em vez de continuar enchendo o bolso da gestão.
A matemática do alívio
De acordo com a administradora, essa decisão deve causar um impacto positivo de R$ 0,04 na distribuição mensal por cota. Pode parecer pouco, mas em um mercado onde 1 centavo vira manchete, esse valor cai como uma garoa em meio ao deserto.
Só que, calma lá: a própria gestora já tratou de soltar um balde de água fria, avisando que esse impacto não é garantia de rendimento. Traduzindo: o valor é real, mas não é permanente.
A raiz da revolta
A treta toda gira em torno da forma como a taxa de consultoria é calculada. Hoje, o critério é o valor patrimonial — um número que, na prática, não reflete o quanto o mercado realmente paga pelas cotas. E aí mora o problema.
Com RECT11 sendo negociado abaixo do valor patrimonial, os cotistas não engoliram continuar pagando taxas altas com base em uma avaliação inflada. É como pagar aluguel de cobertura morando no porão. E ninguém gosta de ser feito de bobo.
Segundo o movimento, mudar a base de cálculo para o valor de mercado pode elevar os rendimentos em até R$ 0,05 por cota. Num fundo que já está em observação por conta da performance e da vacância de seus imóveis, essa mudança é como um sopro de vida.
Não é só sobre dinheiro — é sobre transparência
Mais do que os centavos em si, a decisão representa um sinal de que, sim, a voz dos cotistas pode causar impacto. O fundo ouviu, recuou e agora tenta consertar o estrago.
Talvez o recado mais importante seja esse: o investidor está cada vez mais atento, exigente e disposto a se unir por mudanças reais. E os gestores que ignorarem isso? Bom, talvez estejam prestes a conhecer o gosto amargo da vacância... de confiança.
5 impactos práticos dessa mudança para os investidores
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Maior distribuição de rendimentos a curto prazo — com a suspensão da taxa, sobra mais para os cotistas.
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Redução do endividamento do fundo — o que melhora a saúde financeira do RECT11.
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Pressão para revisão na base de cálculo das taxas — que pode beneficiar outros FIIs também.
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Fortalecimento da participação ativa dos cotistas — mostra que se organizar dá resultado.
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Maior transparência e alinhamento entre gestão e investidores — essencial num cenário de incerteza.
E agora?
A batalha pode estar longe do fim, mas uma coisa ficou clara: quem investe também tem voz. RECT11 congelou sua taxa de consultoria não por boa vontade, mas porque sentiu o calor vindo da base.
Então, se você também é cotista — seja deste ou de outro fundo —, lembre-se: acompanhar, questionar e cobrar faz parte do jogo. E nesse jogo, informação vale mais que aluguel.
Fique de olho. Cobre. E nunca, jamais, aceite pagar caro por silêncio.