A bola nem rolou direito e a Copa do Mundo de Clubes 2025 já virou um caso curioso: cheia de patrocinadores, mas com arquibancadas vazias. É como uma festa com buffet de luxo e DJ internacional, mas sem convidados. O palco é os Estados Unidos — terra de gigantes, onde o futebol ainda luta pra deixar de ser apenas "soccer". E nesse cenário, a FIFA tenta equilibrar os holofotes do marketing com a sombra do desinteresse popular.
O lado dourado da moeda: o Mundial virou vitrine global
Patrocinador é o que não falta. Na última semana, o Airbnb entrou em campo como o nono parceiro oficial do torneio, se juntando a pesos-pesados como Coca-Cola, Visa, Bank of America, Qatar Airways e o fundo bilionário PIF da Arábia Saudita. A lista de marcas é tão estrelada quanto a de seleções numa Copa.
A lógica é clara: transformar o Mundial de Clubes em produto de massa, multiplataforma e globalizado. A FIFA quer mais do que um troféu no gramado. Ela quer um evento com alma de Super Bowl, recheado de experiências, ativações e cifras estratosféricas. Só o contrato com a Dazn, que garantiu os direitos de transmissão, gira em torno de R$ 6 bilhões.
Premiação turbinada, clubes sul-americanos em festa
Se o torcedor ainda não chegou em peso, o mesmo não se pode dizer dos cofres dos clubes. Participantes como Palmeiras, Flamengo, Fluminense e Botafogo vão embolsar algo em torno de R$ 90 milhões só por entrarem em campo. É mais do que ganhariam vencendo uma Libertadores — com a metade do esforço.
Sete jogos no máximo, um mês de competição, cifras milionárias. Parece o paraíso para os dirigentes. Mas há um detalhe incômodo pairando no ar...
Estádios vazios e promoções forçadas
Mesmo com todo esse aparato comercial, o que salta aos olhos é o silêncio das arquibancadas. Nenhum jogo teve lotação esgotada, e a organização já recorreu a promoções e descontos para tentar empurrar os ingressos. A partida de abertura, com Inter Miami e Al Ahly, teve mais expectativa do que torcida presente.
Gianni Infantino, presidente da FIFA, preferiu o tom confiante: “os estádios estarão cheios”, disse. Mas até agora, o que se vê é que o coração da América parece ainda não ter abraçado de verdade esse novo “carnaval da bola”.
Airbnb, Budweiser e a aposta nas experiências
Na contramão do desânimo nos estádios, fora deles o jogo é outro. O Airbnb não está só fornecendo hospedagens — está vendendo "experiências únicas". Estima-se que 380 mil pessoas usem a plataforma durante a Copa de 2026, gerando US$ 3,6 bilhões em impacto nas cidades-sede. É o tipo de jogada que transforma o futebol em motor turístico e econômico.
A Budweiser, por sua vez, aposta no emocional: conectar futebol, música e celebração. “Queremos transformar cada momento em algo icônico”, afirma Mariana Santos, diretora de marketing da marca no Brasil. Mesmo quem está longe do estádio vai sentir o cheiro de grama molhada — ainda que virtualmente.
Um torneio em transição: entre o espetáculo e o vazio
Não se engane: a FIFA está jogando grande. Está usando o Mundial de Clubes como laboratório para o futuro do futebol espetáculo. A aposta é em engajamento global, experiências imersivas, grandes marcas e menos dependência do velho modelo de torcer no estádio.
Mas há um ponto que não dá pra ignorar: sem torcida apaixonada nas arquibancadas, falta alma. E nenhum algoritmo resolve isso.
5 impactos práticos dessa nova fase do Mundial de Clubes:
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Clube ganha mais dinheiro em menos jogos — o calendário agradece.
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Empresas têm novas oportunidades de negócios e visibilidade global.
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Hospedagem alternativa se fortalece como motor da economia turística.
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A experiência do torcedor vai além do estádio — é digital, personalizada e emocional.
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O futebol se adapta ao entretenimento de massa, mas corre risco de perder suas raízes.
O placar está aberto — mas o jogo real vai além do campo
O Mundial de Clubes 2025 mostra um cenário paradoxal: a festa tá armada, os brindes são caros, as câmeras estão ligadas… mas falta o calor humano que só o futebol sabe criar. Ainda é cedo pra cravar se esse modelo vai decolar como a FIFA espera — ou se será só mais um gol perdido.
Enquanto isso, torcedores, clubes e marcas já sentem os efeitos dessa nova era do futebol. A pergunta que fica é: você tá preparado pra torcer em um campeonato que pode acontecer tanto no estádio quanto na tela do seu celular?