Futebol Brasileiro Fatura como Nunca, Mas Gasta como Sempre: O Dinheiro da Série A em 2024 e Seus Fantasmas

Taça reluzente no centro do gramado, câmeras piscando, torcida vibrando. O palco é digno de Oscar. Mas, por trás da cortina, o cenário financeiro do futebol brasileiro em 2024 lembra mais uma peça trágica do que um conto de superação.

Com uma receita recorde de R$ 10,2 bilhões, os clubes da Série A até pareceram ter encontrado o pote de ouro no fim do arco-íris. Só que, ao invés de pagar as contas, muitos resolveram comprar mais espadas pro duelo. O resultado? Um rombo de R$ 14,6 bilhões em dívidas. Sim, você leu certo: mais dívidas do que receita.

Quando o dinheiro entra, mas escorre pelos dedos

Imagine um balde furado tentando segurar chuva de verão. É mais ou menos assim que os clubes vêm lidando com suas finanças. Apesar do crescimento de 10% na receita total e de receitas recorrentes (direitos de transmissão, sócio-torcedor, patrocínios) batendo a marca histórica de R$ 7,88 bilhões, o crescimento dessas fontes está perdendo força: apenas 4% em 2024, contra 16,4% no ano anterior.

O curioso — ou melhor, preocupante — é que, mesmo com a grana entrando, o déficit do ano foi de R$ 283 milhões. Como? Gastando mais do que arrecadam. A velha conta que não fecha.

A venda de jogadores virou muleta

É quase como um vício: vende-se um talento da base aqui, resolve-se uma parcela da dívida ali. O problema? Isso não é receita sustentável. Se os clubes deixassem de vender atletas, o Ebitda — aquele indicador que mede o que sobra de verdade — ficaria no vermelho: R$ 261 milhões negativos apenas nas receitas operacionais.

Claro, nem todos estão no mesmo barco furado. O Palmeiras segue navegando com um Ebitda total de R$ 475 milhões (ainda que o recorrente seja negativo), enquanto o Flamengo parece o mais equilibrado da turma, com R$ 232 milhões positivos recorrentes.

Mas são exceções. A regra, infelizmente, é o improviso.

Casas de apostas: anjos ou vilões?

Um novo protagonista entrou em campo com os bolsos cheios: as casas de apostas. Em 2024, elas injetaram R$ 579 milhões em patrocínios máster — nada menos que 28% das receitas comerciais dos clubes. Esse boom publicitário elevou o investimento em publicidade dos times para 2,3% do total nacional.

Tudo lindo, né? Só que não. Essa relação já começa a mostrar suas rachaduras. O setor ainda está em processo de regulamentação e vem sendo alvo de críticas e investigações. Se o mercado travar, o impacto nos cofres dos clubes pode ser brutal.

Dinheiro que vira dívida

Se os clubes faturam como nunca, por que continuam devendo como sempre? Segundo o economista Cesar Grafietti, estamos revivendo 2014 — quando o aumento na receita só serviu pra inflar ainda mais os problemas. O dinheiro virou combustível para contratações de emergência, projetos inchados e promessas furadas. Em 2024, os clubes torraram R$ 3,4 bilhões com contratações, o dobro de 2023.

Como disse Pedro Oliveira, da OutField: “Trocaram o futuro pelo presente”. É o famoso “tudo ou nada”, só que jogado com a saúde financeira do clube — e do torcedor que paga ingresso e compra camisa.


5 Impactos práticos dessas informações na vida das pessoas

  1. Aumento de ingressos e produtos: Com dívidas maiores, os clubes compensam nos preços — e quem paga a conta é o torcedor.

  2. Venda precoce de talentos: Jogadores promissores saem cedo demais, antes de brilhar por aqui.

  3. Times instáveis: Contratações impulsivas, técnicos trocados e elencos desequilibrados afetam o desempenho em campo.

  4. Menor investimento em estrutura: Dívidas drenam recursos que poderiam ir para centros de treinamento, categorias de base e programas sociais.

  5. Risco de falência e punições: Dívidas mal geridas podem levar a sanções da FIFA e até rebaixamentos por questões administrativas.


E agora, Brasil?

O futebol brasileiro está numa encruzilhada. De um lado, bilhões entrando. Do outro, dívidas que crescem como erva daninha. Ou a Série A aprende a cuidar do próprio jardim com planejamento, controle e pé no chão — ou vai continuar regando os mesmos erros.

O espetáculo ainda encanta. Mas sem bastidores sólidos, não há show que dure.

A hora de mudar é agora. E você, torcedor, faz parte disso: cobre, fiscalize, participe. Afinal, o futebol é nosso.

Postar um comentário