O jogo virou, e a bola nem bateu no chão. Enquanto a NBA caminha para se consolidar como o império global do basquete, um novo capítulo se desenha na prancheta: a criação da NBA Europa. E, ao que tudo indica, essa história tem tudo pra desafiar a hegemonia da tradicional Euroliga, sacudir estruturas e abrir espaço pra uma nova geração de talentos — dos Bálcãs ao Bronx.
Não, não é só mais um torneio. É um movimento estratégico. Quase geopolítico. Um xeque-mate silencioso que a liga norte-americana prepara, com olho clínico para o que vem acontecendo dentro e fora das quadras.
O mundo virou playground da NBA
Nos últimos anos, os gringos tomaram conta do jogo. Sete MVPs consecutivos nas mãos de estrangeiros. Shai Gilgeous-Alexander, o novo dono do troféu, veio do Canadá. Antes dele: Antetokounmpo (Grécia), Jokic (Sérvia), Embiid (Camarões/EUA). E, olha só, os dois últimos drafts foram liderados por franceses — Wembanyama e Risacher.
Essa onda não é modinha. É consequência. A NBA soube olhar além das fronteiras. Apostou, investiu, colheu. Agora, quer plantar direto no solo europeu.
Uma liga pra chamar de sua — em solo europeu
Segundo o vice-comissário Mark Tatum, a proposta da nova liga europeia prevê entre 14 e 16 times, com algumas franquias fixas e outras rotativas — todas disputando espaço numa estrutura mais aberta, com acesso e rebaixamento (algo impensável no modelo americano).
A ideia é atrair clubes relevantes, como os gigantes da Espanha, Turquia, Alemanha e Grécia. Tudo isso com apoio da FIBA, que entrou em campo junto com a NBA pra estruturar a proposta — e talvez até incluir a Basketball Champions League como parte do circuito.
Nos bastidores, uma coisa é certa: a NBA quer mais do que popularidade. Quer presença física, impacto cultural e controle sobre o futuro do jogo.
Investimento na base, nos técnicos, no espetáculo
A ambição não para nos clubes. A NBA quer colocar os dois pés no continente, investir na formação de atletas, árbitros e técnicos, fortalecer escolas e transformar talentos regionais em astros globais — como fez com Luka Doncic, revelado no Real Madrid antes de virar fenômeno no Dallas Mavericks.
Tiago Splitter, brasileiro ex-NBA, já serve como ponte entre esses mundos: depois de um ano em Paris, virou assistente técnico do Portland Trail Blazers. Pequenos movimentos que, quando somados, revelam uma engrenagem em curso.
A Euroliga que se cuide
Claro, a Euroliga não vai sair de cena sem lutar. Com décadas de história e um ecossistema consolidado, ela ainda é o lar dos maiores clubes do Velho Continente. Mas mesmo seus executivos já se reuniram com a NBA. A mensagem é clara: resistir isoladamente pode não ser o melhor caminho. Colaborar, talvez. Ou será que veremos uma guerra fria à moda esportiva?
De qualquer forma, o cenário está armado. E o apito inicial pode redefinir o que é “basquete internacional” nas próximas décadas.
E o Brasil no meio disso tudo?
Boa pergunta. A resposta: ainda de fora. Por enquanto, a NBA foca na Europa e mantém seu projeto africano com a BAL (Basketball Africa League). E sobre o Brasil? Tatum foi direto: São Paulo não tem quadra de nível internacional para jogos oficiais. O Rio já recebeu partidas de pré-temporada no passado, mas por ora, sem planos para a temporada regular em solo verde-amarelo.
Mas nem tudo está perdido. O NBA House, no Parque Villa-Lobos, em São Paulo, virou a maior ativação internacional da liga. Com shows, produtos, comidas, quadra ao ar livre e até o troféu Larry O’Brien exposto, o espaço virou parada obrigatória pra quem vive o basquete no peito — mesmo a quilômetros de distância do garrafão.
5 impactos práticos da criação da NBA Europa:
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Abre portas para talentos europeus sem a necessidade imediata de ir aos EUA.
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Valoriza o ecossistema local com investimento em estrutura e visibilidade.
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Aumenta a competitividade com a Euroliga e acelera a evolução técnica dos clubes.
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Expande o mercado do basquete como produto midiático global.
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Fortalece a narrativa de que o basquete não tem mais dono — tem vozes, sotaques e estilos diversos.
A era das fronteiras acabou — o basquete agora é de todos
Se antes a NBA era sinônimo de basquete americano, hoje ela é a tradução de um esporte globalizado, pulsante, em movimento. Com o projeto da NBA Europa, o jogo se expande, se transforma e se reinventa. E se você ainda acha que o futuro do basquete será decidido só em Nova York ou Los Angeles, talvez seja hora de olhar pra Madri, Istambul ou Ljubljana.
Porque a próxima estrela pode estar jogando agora num ginásio pequeno, esperando só que o mundo o descubra. E, dessa vez, o mundo vai estar olhando.