O futuro da energia nos Estados Unidos parece estar prestes a ganhar uma nova página. Depois de décadas em que a construção de usinas nucleares se arrastou entre atrasos e orçamentos estourados, o Google e a startup Kairos Power anunciaram que vão erguer, até 2030, um reator nuclear avançado no Tennessee. Chamado de Hermes 2, o projeto será conectado à rede da Tennessee Valley Authority (TVA) e promete reacender a confiança em um setor que parecia condenado à estagnação.
Um reator compacto, mas poderoso
Ao contrário dos gigantes nucleares que chegam a mil megawatts, o Hermes 2 terá capacidade de 50 megawatts, o suficiente para abastecer cerca de 36 mil lares. Pode soar modesto, mas carrega um peso estratégico: fornecer energia limpa e constante para os centros de dados do Google no Tennessee e no Alabama, locais onde a demanda elétrica cresce no mesmo ritmo vertiginoso da inteligência artificial.
A TVA, que firmou o primeiro contrato de compra de energia com esse tipo de reator nos Estados Unidos, garante que o consumidor não vai arcar com o custo do pioneirismo. A responsabilidade financeira fica nas mãos do Google e da Kairos, enquanto a TVA garante a receita futura para manter a operação.
Um setor marcado por fracassos
Falar em novos reatores nucleares no país pode soar como ironia. O último grande projeto, em Vogtle, na Geórgia, custou 18 bilhões de dólares a mais do que o previsto e demorou sete anos além do planejado para ser concluído. O fiasco foi tão profundo que contribuiu para a falência de uma das gigantes do setor, a Westinghouse.
É justamente contra esse histórico que a Kairos tenta se diferenciar. Seu segredo está na tecnologia: em vez de água pressurizada, usa sal líquido como refrigerante. Isso permite operar em baixa pressão, reduzindo custos de materiais e aumentando a segurança. Além disso, o formato menor promete cortes de tempo e de preço na construção.
Google e a busca por energia limpa
O Google não entrou nesse jogo por acaso. A empresa busca energia confiável e livre de carbono para sustentar o apetite voraz de seus sistemas de inteligência artificial. Só com a Kairos, já encomendou capacidade para 500 megawatts até 2035.
O Hermes 2 também tem uma função estratégica: criar um modelo padronizado de reator. A ideia é que a tecnologia possa ser replicada em série, acelerando construções futuras e barateando custos, como uma linha de montagem energética.
O peso simbólico de Oak Ridge
A escolha do local também fala por si. O reator será erguido perto de Oak Ridge, berço da pesquisa nuclear americana desde a Segunda Guerra Mundial. Se no passado o lugar foi palco de segredos atômicos, agora pode se tornar símbolo de um novo começo para a energia nuclear, desta vez voltado à sustentabilidade e à inovação.
Impactos práticos para o cotidiano
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Energia mais estável e confiável, mesmo em horários de pico.
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Redução da dependência de combustíveis fósseis e seus preços instáveis.
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Estímulo a novas tecnologias de reatores menores e mais baratos.
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Geração de empregos qualificados durante construção e operação.
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Avanço concreto na meta de eletricidade limpa para sustentar a revolução digital.
Conclusão
O Hermes 2 não é apenas um reator nuclear. É um prenúncio de que o setor pode, enfim, sair da sombra dos fracassos e se reinventar. O Google ganha energia limpa para sustentar sua corrida tecnológica; a Kairos aposta em provar que o nuclear pode ser rápido, seguro e acessível; e o Tennessee se torna palco de um experimento que pode redefinir o futuro energético dos Estados Unidos. A questão é: estamos preparados para abraçar essa virada histórica?
Fonte: cnbc